Búzios abriga um dos três Mangues de Pedras do mundo

Fotos: Noni Levinson

Ainda pouco conhecido pelos turistas, o Mangue de Pedras, na Praia da Gorda, no bairro da Rasa, em Armação dos Búzios, é um recanto paradisíaco a ser conhecido, mas sempre de forma consciente para preservar o ecossistema local. Abençoado pela natureza, é o destino ideal para quem foge das praias mais badaladas. Sendo um dos três mangues de pedras que existem no mundo, tem uma reserva ecológica muito importante, com vegetações típicas deste tipo de espaço, e é um berçário natural de várias espécies de plantas e animais.

Segundo a bióloga, paisagista e gestora ambiental, Débora Santana Soares, os manguezais são caracterizados por ser um ecossistema de transição entre os ambientes marinho e terrestre, aspecto típico de regiões tropicais e subtropicais. “Estas regiões são marcadas por uma zona úmida, salgada, lodosa, pobre em oxigênio e rica em nutrientes, onde predominam os vegetais halófilos, ou seja, plantas terrestres adaptadas a viverem no mar ou perto dele, e são tolerantes à salinidade”, explicou Débora, acrescentando que todos os manguezais são áreas públicas de preservação permanente, de acordo com o novo Código Florestal, Lei 12.651, de 25 de maio de 2012.

Apesar de ser da família dos manguezais, um mangue de pedras tem algumas especificidades e devem receber ainda maior atenção. Marcados por dois diferenciais, o primeiro é a água de chuva que se infiltra no solo, percola o morro e aflora nas areias da praia, onde se mistura à água salgada, assim produz água salobra, que é responsável pela existência deste ecossistema. Em segundo, está a ausência da vegetação conhecida por Mangue Vermelho ou Rhizophora Mangle. “A explicação mais plausível para esta característica é pelo fato da árvore possuir sementes grandes e estas não conseguirem se manter fixas entre a faixa de terra, assim, são arrastadas novamente para o mar. Apenas as espécies Mangue Branco – Laguncularia Racemosa, e Mangue Preto – Avicennia Schaueriana, conseguem se manter enterradas, pois são sementes pequenas”, disse.

A fauna deste tipo de manguezal, de acordo com estudiosos, abriga em torno de duas mil espécies, entre animais e vegetais, constituindo-se em uma zona de grande diversidade de organismos que vão, desde diatomáceas e protozoárias, até bivalves, caranguejos, répteis, aves e mamíferos. Com isso, esse ecossistema se estabelece de grande notoriedade ecológica, uma vez que contribui para o equilíbrio da cadeia alimentar dos ecossistemas marinhos. A gestora ambiental destaca que, se não houver preservação necessária, poderão haver danos futuros no local. “No Mangue de Pedras e seu entorno existem cinco espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção, além do peixe Mero e da quarta ave mais ameaçada de extinção do planeta, a Sianinha da Praia ou Formicivora littoralis. Pela importância incontestável do Bioma Mangue de Pedra, é urgente a preservação antes que a fauna citada seja extinta”.

Já a flora, mantem-se com espécies importantes de Mangues Branco e Preto, Cactus Cabeça de Velho, Aroeira da Praia, Pimenteira da Praia, Bromélias fixadoras e, em grande quantidade, o Pau Brasil . Com isso, o Mangue de Pedras é um notório geossítio brasileiro pela sua raridade, sendo apenas três no mundo, dois no Brasil e um no Japão. O Mangue de Pedras da Praia Gorda, as paleofalésias da Rasa, a falha tectônica do Pai Vitório e a Ilha Feia compõem o geossítio de Armação dos Búzios. De acordo com Débora, localizado em uma Área de Preservação Permanente (APP), Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) e o último manguezal existente na região, é urgente que a legislação vigente seja adequada para salvaguardar o meio ambiente e os recursos naturais existentes, como a proibição de construções próximas, plantio ou exploração de atividade econômica. “Para sua total preservação é necessário tornar a área um parque estadual e protegido das ações predatórias do homem. Preservar em sua totalidade, a fauna e flora ali existentes”, falou a bióloga.